23.10.07

Peregrinação a Fátima …(6) …

Sexto dia – Sexta-feira
Dia 12 de Outubro de 2007

Último dia de Caminhada…

Alvorada, pela 4, desta vez com a Rosa a ajeitar os pensos nos pés e a ajudar a enrolar a trouxa, todos a postos e bem dispostos, pois era o último dia de caminhada na direcção ao desígnio a almejado.

Agora, todos de camisola igual (homens e mulheres), verde-claro (limão), com a indicação do grupo, apetrechos para as camionetas e todos prontos para o mata-bicho.

Pequeno-almoço, tomado junto ás instalações, já no exterior da escola. Está a amanhecer e desta vez a organização, quer que cheguemos mais cedo ao Santuário.

Sorrisos em todas as caras, a alegria é contagiante, se formam os grupos, se iniciam os cantares e o andamento lá começa com a saída pelas 5,30 horas.

Caminhamos em direcção a Minde, agora não existe dúvida, é sempre a subir, os gémeos e as coxas não têm trabalho facilitado.

Primeiro descanso para reflexão e o abonamento de glicose e matar algum bicho mais feroz que o andamento desmoitou, com bolachas, fruta, alguns aproveitam, para se massajarem e executarem alguns alongamentos, pois já aprenderam alguma coisa nestas caminhadas, que o calcar da estrada faz mossa e da grande.

Mas é necessário andar, que se vai almoçar no Covão do Coelho. Minde à vista, lá atravessamos a vila, já perto da saída e num café, paragem geral, pois não se podia pedir muito esforço e o pior estava para vir… meter a cafeína e repousar um pouco, neste tempo todo de caminhada é a primeira vez que me sento numa mesa de café… e leio um jornal … já tinha dias o “Correio da Manhã”, mas para mim muita das noticias eram frescas, assim retirei um recorte que com a devida vénia reproduzo…

“Capelinha atacada à bomba

A Construção da capelinha iniciou-se a 28 de Abril de 1919. De pedra e cal, coberta de telha, tinha 3,30 metros de altura e 2,95 de largura. A obra estava pronta a 15 de Junho desse ano. A Imagem da Virgem chegou no ano seguinte. Feita de cedro do Brasil e pintada a óleo, foi executada na Casa Fânzeres de Braga, segundo a descrição de Lúcia. Foi colocada na Capelinha a 13 de Junho de 1920. Dois anos depois a 6 de Março de 1922, o templo foi destruído pela explosão de quatro bombas ali colocadas. Uma quinta bomba posta nas raízes da azinheira, não rebentou. A Reconstrução da capelinha teve início a 13 de Dezembro desse ano, desta feita contemplando um alpendre.
Em 1981, a imagem da Capelinha alterou-se radicalmente com a construção de um novo alpendre, em estrutura envidraçada, que se mantém até aos dias de hoje. Uma obra muito criticada na altura por quebrar a imagem tradicional, mas que acabou por se revelar fundamental, já que permite abrigar cerca de 2000 pessoas.”

Quantos sabem que a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima é feita de Cedro do Brasil?

Alguns lá saberão eu não sabia, mas gostei de ficar a saber, até o Padre que nos acompanhou, não sabia, eu lhe fiquei de dar o recorte do Jornal, para memórias e recordações dele, bem como “Gindungo” em óleo, que ele já sente saudades do seu “Gindungo” Angolano.

Saí do café e fui encontrar todo o grupo já sentado no passeio, junto á calçada que formava a estrada, ainda por ali estivemos mais um pouco e eu par os meus botões, “ Se querem chegar cedo, porque ficamos pasmados por aqui? “, pouco depois tive a resposta… formação de grupos e aí vão eles fila de um, novamente a subir aquela serra de Minde na direcção do Covão do Coelho.

Subir, já tínhamos feito centenas de subidas, quase sempre com o betuminoso junto à sola dos calcantes, mas subir, subir foi aquilo…aquela sim é uma subida, comparando as outras… não passam de ligeiros desnivelamentos de terreno, aquela foi mesmo de água pela barba, caramba, algumas subidas de Évora ou Lisboa são íngremes, mas de extensão mais ou menos curta, agora junta Kilometros a uma subida com grau de inclinação extraordinário e tens a subida que tento descrever, já junto ao cimo estava a ver que tinha de parar, era ver aquela gente toda ofegante e de rosto vermelhinho que nem tomate, caramba… a deitar os “bofes pela boca”.

Mas lá nos acercamos ao Covão do Coelho. Pequeno lugarejo com uma Igreja no centro da aldeia.

Um descanso que bem merecido era… depois a Missa, logo seguido de mais um pequeno andamento e Almoço.

Uma das coisas boas era o descanso no seguimento do tratamento da pança, aí se colocavam algumas conversas em dia se dormitava ou se tratava do magoado cabedal, principalmente dos pecíolos que agarrados ás tíbias, estas também doridas.

Levantamento, a alegria que se tinha esvaído no final da manhã, voltou aos rostos, já só faltava uma parte da tarde, para terminar todo aquele sacrifício.

Andar …Andar que são horas, já não íamos sozinhos, na caminhada, outros grupos se atravessavam vindos quer da esquerda quer da direita, outros, nos aplaudiam e nós retribuíamos, “Donde de vêm?”… Perguntava um outro grupo de peregrinos, “Vimos de Évora “… Respondíamos nós, e lá perguntava-mos e Vocês?... “De Lisboa”… responderam eles e batíamos palmas uns aos outros, cantávamos canções de um grupo para outro, tudo em movimento que o tempo não era de paragem, bem queríamos mas, não dava mesmo… a nossa gente por segurança vinha em fila de um... mais grupos mais aplausos, mais perguntas de parte a parte, estava feito o ensaio, para as comoções que aí vinham. Entrada em Fátima, era a alegria estampada, grupos daqui… grupos dali… o nosso grupo de grande que era, que a G.N.R. teve de dar ajuda na interrupção do trânsito, para podermos atravessar algumas artérias… Caminhando para a rotunda dos Pastorinhos… aqui já alguns de mão dada… estávamos quase…quase no fim… chegada à Rotunda, e o pranto rebentou na maioria, tínhamos chegado por fim… Abraços beijos, os agradecimentos… foi um entrelaçar de comoções e corações, Foi o reconhecimento que a maioria das pessoas deste grupo, com diferença social, se pode aproximar e fundir na mesma gente no mesmo povo, criando uma vivência feliz , sem preconceitos sociais, foi digna de ver a chegada á rotunda… eu não sou de choro ou lágrimas… mas eu próprio senti a voz embargada e a boca seca… a boca seca era pela sede… sem dúvida.

Da rotunda dos Pastorinhos ao destino final, ainda é bom caminho, mas não demos pela distância, tal era o ensejo de chegar junto da capelinha das aparições.

Entrada no Santuário, novamente de mãos dadas, passamos ao lado da nova Basílica da Família da Santíssima Trindade, junto à entrada uma multidão de gente pronta para entrar, vieram de longe ou de paragens longínquas (De toda a Europa veio gente até da longínqua Rússia, das Américas do Norte, do Sul com especial relevo para os irmãos Brasileiros, muita fala brasileira eu ouvi.

Entramos no recinto, iniciamos a descida para a capelinha, linda aquela fila de camisolas verdes, que nunca mais terminava, à frente seguia o pendão dos peregrinos da Diocese de Évora, o Padre como em toda a caminhada, também nos acompanhava, ia na fila (também com uma camisola verde igual à de todos os outros … ele bem a merecia, pois alem de bom andarilho, demonstrou sempre ser um companheiro, que era mais um peregrino, igual a todos os outros) … enfim mais umas comoções, agora estávamos todos juntos e na Capelinha das Aparições.

A peregrinação tinha terminado, agora era acompanhar a festa maior, a procissão das velas hoje, amanhã a procissão do adeus e voltar a nossa casa. Assim juntos novamente e em fila, lá vamos para o lugar da pernoita, Pavilhão Desportivo de um Colégio de Freiras.

Retirar as coisas da Camioneta pela última vez, escolher o canto e mais uma vez um palco, a maioria dos homens ficou no palco, as mulheres ficaram no seio do pavilhão… corrida ao banho… o afeitar da cara com a lâmina… a Rosa trata das famosas, que ninguém quer, (as malditas nem fugir sabem…) e um prato de Caldo Verde (o melhor), que as Irmãs aprontaram, para retemperar os estômagos, farnéis de cada um por cima das mesas, e daqui e dali, lá temperamos a bucho.

Depois foi a saída para a Missa e procissão das velas, a noite que tinha começado amena, arrefeceu um pouco com o entrar noite dentro. Mas não me consegui suster em pé, não era só o incomodo dos pés pisados, como eram dores nas articulações, agora que estava mais frio e eu de calções, O recinto estava a rebentar pelas costuras… 250.000 peregrinos, aquilo era a maior multidão que eu já mais vi, mas devagar devagarinho mas não parado, lá consegui sair do recinto do Santuário, e entrar nas ruas das lojas de recordações para comprar dois bancos… (daqueles de abrir e fechar com uma lonazinha por cima…pois desses mesmo, tipo para pescador). Entrei na loja, escolhi os bancos, entrego o cartão para pagar… e o raio do código não entrava… já estava a ficar mesmo fulo comigo mesmo… lá voltei ao recinto… eu tinha retirado pontos estratégicos de apoio para a volta, se não nunca mais encontrava o meu grupinho… mas devagar devagarinho… e com um engano pelo meio lá dei com a rapaziada e pedi o código à Rosa pois o que eu pensava ser não dava mesmo… a malta riu-se da aventura que eu estava tendo… dorido e com uma multidão pela frente… uns sentados, outros deitados, outros levantados… aquilo foi mesmo difícil de transpor… lá voltei eu à loja… mas o código continuava a não ser aceite… já estava a ficar “piurso”, que para “eu,”ficar com os azeites basta comer uma azeitona… lá explicou a lojista, que por ter falhado 3 tentativas a máquina rejeitava o cartão… lá perguntei por uma caixa próxima me indicou uma no BCP… Lá levanto o capital, pago no meio de uma rizada com a lojista e volto para o recinto… passa aqui, ali... sem atropelar ninguém… lá dei com eles mais facilmente, podéra, já era a 4 vez que fazia aquele caminho por entre tanta gente, que já não dava para errar… o meu ponto de referencia era 90º á Cruz da Basílica do Santuário e 45º á capelinha… não falhou nada no escuro e no meio daquela multidão…

Voltei com os banquinhos mesmo a tempo de começar a Missa… Assistimos à procissão das velas e voltámos, para o ginásio do colégio para um sono reparador, que o dia seguinte era o último.




Na fotografia tirada durante uma promessa, o matulão ás costas da pobre senhora é este pobre escriba, que tenta descrever uma peregrinação a Fátima de um grande grupo de amigos. A senhora é sua mãe e ainda vive na sua companhia.

Quem tem uma Mãe tem tudo, quem não tem não tem nada.

Também Nossa Senhora do Rosário de Fátima é nossa Mãe, a ela nos encomendamos para que proceda por nós… Quantas e quantas vezes, no socorremos da nossa Mãe Celeste.

Seguintes Títulos:
7 – A procissão do Adeus e O Caminho da Volta
8 – Mais fotos, Mapas e Cânticos e outras lembranças

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