18.10.07

Peregrinação a Fátima …(2) …

Fui encontrar a Rosa com muito boa disposição…ainda bem… que a nervite lhe tenha passado.

Arrumar os pertences, esteira, colchão, saco-cama e demais utensílios, colocar tudo na camioneta e entrar na fila do pequeno-almoço, pão com fiambre e queijo, copo de leite frio, copo de água, para os medicamentos da ordem e a aproximação ao grupo que se ia juntando no exterior do pavilhão.

Distribuição de coletes reflectores laranja, abandonando os verdes limão, assim todo o grupo tinha a mesma cor nos coletes, ficando os verdinhos para as gentes de apoio e para o membro do grupo vassoura (o último, atrás deste elemento, não ia ninguém, assim não se perderia ninguém durante a caminhada).

Quem leva a Cruz…Quem leva a Cruz… e se forma a fila já caminhando no 2º dia, previsão 24 Km , paragem obrigatória, na saída da cidade, para tomar um café mais forte, mais um descanso e eis a descida até ao cruzamento com a Auto-Estrada, Lisboa – Elvas, “sabem os que lhe digo, com as famosas borreguinhas, custa mais descer, que subir, pois parece que andamos sobre um colchão de água”.

Agora a subir, a subir até ao primeiro local de reflexão, onde depois de tanto subir, sentimos já dores nas coxas e nas pernas, os tais gémeos de 3 Kg começam a ganir baixinho.

As mulheres se espalham no campo, para as necessidades, o mesmo sucedendo aos homens… se vão juntando novamente, começam as primeiras pernas, viradas ao céu… os ‘esfreganços’ com as mais diversas pomadas, mas a mais popular é sem dúvida a ‘halibute’, o cheiro característico da pomada paira no ar e em tudo quanto é lugar.

Logo, logo, fica disponível, para todos os peregrinos, frutas, bolos, bolachas em quantidade mais que suficiente, para saciar alguma fominha já escondida, servindo o momento para retemperar forças na sombra do casario da herdade.

Se nestes momentos de reflexão rezamos? Claro que sim… então não são peregrinos caminhantes? Não vamos só para gastar a sola dos sapatos, nem pelas dores nos membros inferiores, vamos pela nossa fé e por Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Levantar, voltar á fila e andar, desta vez mais rápido no andamento a paragem seria nos Foros de Vale Figueira para almoço, descanso e tratamento a quem tenha necessidade.

Por este andar tive o primeiro contacto com as meninas da “Formula 1” uma unidade de andamento especial, começavam no final da fila e mantendo um andamento, mais rápido, quando passavam por mim, eu iniciava uma brincadeira, que nos recolocava a boa disposição, desde o inicio até últimos dias, com as meninas aceleras da “F1”, mantivemos um óptimo relacionamento.

Chegados enfim a Foros de Vale Figueira… almoço, descanso e remanso, passar a água pelo corpo suado, que a manhã esteve quentinha, que bem sabe a água fresca correr pelos músculos do pescoço, aproveitei o momento para colocar uma perneira e uma coxa elástica na perna esquerda, pois as dores musculares nesta perna me incomodavam.

Todos para a sala… já não sei ao pé de quem fiquei ou quem ficou perto de mim… uma pessoa sei que estava sempre lá… a Rosa, que não me largava, por nada, nem eu queria que andasse muito longe, que no contar do tempo decorrido, para onde vai a corda vai o caldeirão.

Final do almoço e mais um descanso…

Aproveitam alguns para tratar dos pés, outros para ver se o rebanho se mantinha sem mal de maior, a maioria para massajar as pernas e os pés… outros para contar como decorreu a manhã.

Mas desta vez eu ultrapassei, mesmo o descanso… no quintal do restaurante onde muitos se juntaram eu me ajeitei numa cadeira, na sombra de uma parede e por ali adormeci, acordei porque o silêncio se fez sentir. Lá retirei o traseiro do assento e procurei o grupo que já estava formando fila para o avanço da tarde… A Rosa estava muito preocupada porque não me tinha encontrada… pois se tinha posto em conversa, com novas amigas, que nem deu por eu estar por ali encostado… claro que deu risota conjunta.

Caminhada novamente, em direcção ao destino final dessa noite a vila de Lavre.

Ao ultrapassar o padre, coloquei a conversa em dia, fiquei a saber de onde era, se era diocesano, salesiano ou de uma ordem, onde fez a missa nova e eu fui dizendo quem era… simpático o padre que nos acompanhou, nesta conversa nem demos pelos kilometros, que íamos percorrendo, mas lá nos separamos, ele se deixando ir para o fim da fila eu no sentido contrário.

Mais uma paragem, mais um momento de descanso e relaxação.

Desta vez numa quinta, muita sombra, muita arvore e água muito fresca e leve. Palavra puxa palavra e lá vamos encontrando pessoas, que são amigas de nossos amigos, ou que conhecem as filhas por motivos de amizade ou profissional, ou são de terras próximas de que conhecemos pessoas… um caso, duas irmãs a Margarida e a Maria ambas da aldeia de Monte de Trigo, ora eu comecei a andar aos nove meses nesta aldeia, atravessava a rua de sacola ás costas com o dinheiro para a padaria que era mesmo em frente, a padeira retirava o dinheiro e colocava o pão… a graça está é que eu na volta, trago o saco pelo chão, por não poder com o mesmo, motivo de risada para todos, incluindo a minha mãe que achava muita graça à tarefa… tenho um neto, que leva o mesmo caminho o José, acho que na traquinice tem os genes do avô materno.

Depois da reflexão é colocar os butes a andar novamente, para o destino final do dia, agora é sempre a subir, que Lavre fica lá no alto do cabeço.

É subir, subir, subir e já entrados em Lavre e no abandono do alcatrão pela calçada é subir, subir até ao depósito de água, que é onde fica a igreja onde vamos pernoitar, a igreja matriz velhinha de séculos, por aqui só ficam os homens as mulheres vão pernoitar na Casa do Povo.

Retirar os pertences de cada um da camioneta e coloca-los onde nos pareça melhor para passar a noite, escolhi a sacristia, outros escolheram outros anexos, na ala central da igreja não ficou ninguém. O padre da paróquia veio-nos visitar, dar algumas recomendações e sentir se tudo estava bem… Tudo estava bem o corpo é que muito dorido, pois o dia esteve bastante quente, lá fomos ao banho, água fria desta vez, para o corpo acordar, revisão aos pés e mover os glúteos, para a o jantar.

O local da Janta não era ali ao lado, com muita pena minha e de outros, era muito mais abaixo, ou seja na volta … subir, subir. Mas lá demos com o restaurante onde me reencontrei com a Rosa, perguntei como eram as instalações ela me disse, que era tudo ao molho e fé em Deus, percebi que estavam muito pior alojadas que a minha pessoa.

Jantar com sopa, segundo, fruta e sobremesa de arroz doce.

Algum tempo sentado, pois quando nos sentados, nos grudamos ás cadeiras e o esforço, terá que ser forte para colocar as canelas de pé, a vontade é ficar mesmo por ali.

A Rosa ainda foi fazer o penso nos meus calcantes, ficando eu de a levar ao local onde iria cochilar nessa noite, pois segundo ela, também a estação de comboio se tinha mudado para o quarto dela, mas em realidade, não existiu a necessidade de eu entrar no sobe e desce das ruas, pois encontrou umas companheiras que a acompanharam.

Eu aproveitei e fui a um café perto bebericar uma bica, voltei então para a sacristia da igreja, onde já tinha colocado todos os atavios para passar a noite.

Adormeci a pensar no 3º dia… coisa, que iria ser de grande severidade, Lavre – Coruche.

Já agora e num aparte, a casa de banho que a todos nos servia, era a de apoio á sacristia, uma sanita num canto minúsculo, um chuveiro numa reentrância e um lavatório miniatura, mas serviu para todos, o pior era o ruído que alguns se prezavam a fazer, não sei se tudo aquilo tinha metro e meio quadrado.

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