19.10.07

Peregrinação a Fátima …(3) …


Alvorada pelas 5 Horas, inicio de arrumação, higiene matinal e comentar com outros, o circo animado que guturalmente falando se tinha instalado naquela sacristia.

Esperar pela Rosa para me tratar os calcantes com os medicamentos e pensos apropriados, para o rebanho que se instalou na base dos pés (sem pedir licença ou autorização).

Carregar os pertences na camioneta e ladeira abaixo ir ao encontro do leite frio, pão com manteiga o tradicional copo de água para as mezinhas obrigatórias.

Mais umas descidas, para o ajuntamento no café à saída da vila. Ali estivemos um pouco… como a ganhar coragem, a Rosa encontrou uma amiga dos tempos de estudo a Socióloga Lurdes, hoje mãe de família,

Mais uma informação geral como se iria passar o dia, que a caminhada era mais ou menos longa, o tempo estaria quente, mas a maior parte do caminho era plano e com o asfalto sempre por perto, dito isto, formação da dita fila desta vez em blocos de 12 para uma dezena a Maria logo pela manhã.

Fila em movimento descendo até à Estrada Nacional, calcorreando a lateral e aproveitando a frescura da manhã, eu continuava com uma perna azul, de perneira e coxa da cor, pois estava usando calções.

A maior dificuldade na progressão, era a planície, pois se enquadrava sempre o mesmo horizonte, andava, andava e voltava a andar e nada se mudava na frente a não ser aquela enorme centopeia de gentes, com um colete laranja no tronco, tão monótono se estava a tornar a manhã, que resolvi pela primeira vez, colocar os auriculares do “Fm” e ouvir um pouco as noticias e um pouco de musica clássica.

Ainda deu para falar um pouco com o Ramos, irmão de um dos meus melhores amigos da adolescência “o Pavia”, que a vida de cada um separou, já avança aí para os 40 anos, até deu para matar algumas saudades e combinar um encontro, pelo telélé do irmão.

Mais umas conversas com este e aquele ou aquela e estamos chegados ao limite do distrito… paragem da manhã num café à beira da estrada, enorme invasão das instalações sanitárias pelas senhoras… não só invadem o espaço a elas reservado, como a dos homens, resultado da questão, é ver os do sexo masculino a regarem as hortaliças do campo matoso.

Passar a cara por água fresca, para refrescar, que o homem não nos enganou o tempo está quente… escolher uma sombra e sentar mesmo ali no chão, depois de me sentar ainda mandei um comentário para a Rosa… e agora como me levanto (rimos os dois, pois ela também estava bem dorida da caminhada até meio da manhã).

Bolos para aqui, rebuçados para ali e o doping tão necessário da bica.

“Minhas senhoras e senhores, está na hora de reiniciar a caminhada, chega de descanso, que se pode tornar vicio”, era o vozeirão do Brotas da equipa de apoio e que ia ministrando os cordéis para tudo correr sem problemas de maior.

Lá se tornou a formar a fila, desta vez já se ouviam alguns lamentos, e já se viam visíveis sinais de cansaço, que vivamente se manifestavam quer no andar deles como dos delas e os semblantes! Já não estavam tão risonhos, aquela planície estava mesmo a fazer mossa, não só no corpo como na mente.

Mas lá vamos chegando para perto do lugar de almoço… entrada em Santa do Mato, tínhamos vindo a subir aí nos últimos 3 Km e nos carreiros que nos meteram ainda subimos mais um pouco, até ao deposito de água, “lá voltei a falar com os botões, será que esta gente tem um paixão por depósitos de água e alturas? …safa “. Mas era o finalmente para a manhã… paragem mesmo para almoçar na “ Sociedade Recreativa”, onde mais uma vez em fila de pronto a servir lá fomos recarregar as baterias num belo cozido Alentejano”, Desta vez além dos doces, existiu direito ao café expresso tanto apreciado pela maioria.

Mais um descanso para o assentamento do mesmo, mais umas falas, umas piadas e se puxou pelo anedotário de cada um, para uma descontracção da mente e aperfeiçoamento de amizades.

Está na hora, está na hora… mais uma formação em linha em grupos de doze elementos e mais uma dezena e demais canções e a fila atravessou o povoado em direcção novamente á EN 114-4.

Voltámos á planície, a mesma se vai estender até Coruche, atravessamos, montados, eucaliptais, pinheirais e demais ais estavam nas pernas e nas borregas que não se calavam, não sei se o que as incomodava era o calor do alcatrão se era o meu peso a cilindra-las… certo, certo é que elas já incomodam e de que maneira.

O pessoal do apoio, estava incansável, já era de 200 em duzentos metros que paravam, para nos incentivarem e nos cederem, água, bolos, rebuçados, bolachas, fruta eu sei lá o que eles descobriam, para não começássemos a cair que nem tordos… mas ninguém caiu, desistiu ou coisa afim, lá íamos de cabelo suado, corpo suado, roupa molhada, mas de alma fresca.

A tarde estava a se alongar, era hora de apertar mais um pouco o passo, para o salto final… mas ainda mais uma paragem, para retemperar, desta vez bem junto ao Parque Industrial de Coruche… nesta paragem, já se viam mazelas, enfermarias ao trabalho (as enfermeiras também eram caminhantes, trabalho duplo para estas generosas mulheres, que roubavam seu descanso para tratar os companheiros mais aflitos).
Mais uma corrida à rega das plantas campestres, era vê-las espalhadas por tudo quanto era moita. As bolachas, fruta esfregar as pernas, esticar os gémeos, rotações de tronco, movimentos ao pescoço, tudo serve para retemperar.
Sabemos que já estamos perto do final da caminhada do dia, pergunta-se onde vamos jantar e dormir, Hospital Velho, Homens no Anexo do Rc e mulheres no 1º Andar.

Levantamento do rancho, e saltar para o asfalto novamente, agora já falta pouco aí uns 5 Km para o fim, e bem que estávamos a necessitar deste fim.

Passado o cruzamento da estrada das Beiras, vêm as pontes sobre o Sorraia, pontes em aço, altas e com algum tamanho, pontes que são ultrapassadas por passadiços laterais em aço. Entrada na Vila, como das outras vezes, a subir, a subir.

Retirar as bagagens das camionetas, primeiro as das mulheres depois os pertences dos homens, marcação do território e banho… Banho… banho e inundação, que apanhou ainda alguns camalhos no chão. Limpeza pelas senhoras e irmãs da Misericórdia local, chamada de um canalizador, para um arranjo rápido, criando maneira, que todos tivessem a possibilidade de tomar o restaurador banho, Mas na impossibilidade da total recuperação do espaço, logo nos foi disponibilizado outro no “Salão Paroquial”, desta vez eu fiquei numa suite, só para mim (Risos), sala da catequese, com casa de banho própria, como fui o último a chegar, pois estava a falar com a Rosa e outras amigas dela (Eu já tinha tomado banho). Fiquei nesta sala sozinho… a melhor noite da peregrinação, sem o incómodo dos comboios, locomotivas e outras maquinarias pesadas. Fantástico.

Jantar… para ser franco não me lembro o quê… ver onde a Rosa estava instalada… desafiei-a para ficar-mos num Hotel, mas ela não atendeu o meu pedido, e foi afirmando… peregrinação é com todos e até ao fim e assim foi.

Desci então as escadas do 1º andar para a bica da noite, e dei no final do vão, com as nossas enfermeiras, tratando dos pezinhos de cada um, ora atrapando, ora no corte e costura, que é necessário fazer uma cruz na borrega com linha preta, para a malina, não se por aos pulos.

Lá chegou a minha vez, e lá voltaram os pés a ser mirados, remirados, colocação de um liquido mais ou menos castanho com seringa nas borreguinhas e nas assanhadas, mais pomadas e atrapadas com ataduras até aos tornozelos, nos dois, no final a Srª Enfermeira lá me informou, que o curativo era assim para um pé não se rir do outro.

Como tinha de estar sentado num banco muito baixo e pequeno que mais parecido, era a um “moxo”, como sou pesado de costas, uma querida amiga da aldeia da Oriola, lá encostou o seu corpo ao meu, para “moi”não se estatelar no chão, tratamento feito, procurar a Rosa, que ao ver o meu lindo estado, se quis logo ir deitar…mas eu ainda fui por um café até ao centro da Vila, que era bem perto do local onde me encontrava, lá fui encontrar, o Ramos e o Espada, que estavam a meter carburante de 1ª qualidade “Licor Beirão”. Como aquilo é proibitivo para mim, sempre me fiquei pelo café e uma garrafinha de água… ainda se eles andassem metidos com um escocês…vá que não vá… agora com adocicados…

Levantar o arraial do café e nos dirigimos para o local do remanso, pois a alvorada no dia seguinte seria pelas 4H para arranque da fila logo ao Alvorecer.

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