21.10.07

Peregrinação a Fátima …(5) …

Quinto dia – Quinta-feira
Dia 11 de Outubro de 2007

Acordar ás 3horas, que a caminhada de hoje é grande e existe a necessidade de caminhar bem e depressa, para este dia serviu o treino dos quatro dias anteriores, o percurso será entre Almeirim e Alcanena em pleno Ribatejo.

Lamina à cara, escova aos dentes, pente ao cabelo, as pomadinhas regulamentares, arrumar os pertences, vestir um agasalho mais forte, que a manhã está fresca e tudo para dentro das camionetas.

Desta vez tive de executar o tratamento aos pés sozinho, pois a namorada estava longe e não me podia acudir, nem eu aproveitar os seus dotes de feiticeira.

Mas sabem o que é um grilo a cantar na noite, pois é, pelas três, tocou um qualquer realejo e não existiu maneira de o calar, lá nos propusemos encontrar o dito animal electrónico, seguindo o som, a toque de ouvido parava-mos junto do Ten.Coronel que nos dizia que não era o dele… remexe daqui e dali e o bicharoco sem meio de calar. Virámos um cadeirão perto e nada do bicho, já desesperados nos calámos para melhor detectar o realejo mas ele vinha da mala do dito Ten.Coronel, revolta na mala e lá se encontrou o aparelhinho, que o Ex. Militar já não se lembrava que o tinha colocado a despertar junto com o telélé. Risota final. A boa disposição continuava a reinar mesmo a horas impróprias.

Tudo para dentro das camionetas, incluído as bagagens de cada um, mais tombos e retombos e eis-nos à porta do café, onde as mulheres já tomavam o pequeno almoço a Rosa esperava por mim e lá nos fomos abancar numa mesinha, para o leite, café, pão manteiga, fiambre e queijo, para quem entendesse colocar um primeiro penso no estômago. Mais um café para acordar algum neurónio mais dorminhoco e rua com eles, para a preparação da fila, seriam para aí umas 4 da manhã, quando aquela centopeia de pernas se pôs em movimento em direcção a Santarém.

Dentro da Vila tudo bem, fora dela um escuro que nem breu, a estrada sem faixas de segurança, com pontões e pontes, mas mesmo no escuro lá fomos serpenteando, nas terras de aluvião do “Tejo”… aqui as equipas de apoio davam uma inestimável ajuda, pois se colocavam em lugares estratégicos, que além de nos mostrarem a estrada, davam indicação ao veículos circulantes da nossa presença, como a fila era grande e desta vez compacta mas de um a um, ouvimos na rádio um aviso à circulação automóvel da nossa presença, ninguém se arrimou a nós e a claridade do dia lá foi despontando, inicialmente como que envergonhada, depois o rei Sol, apareceu com todo o seu esplendor… assim chegamos à ponte de Santarém, estava a mesma em reparação, aquilo é grande mesmo, aqui tivemos um encontro não esperado, um cão… um cão perdido, provavelmente de um caçador, pois tinha aberto oficialmente a caça dias antes.

Por graça ou sem ela o cão só nos largou já para lá de Mira, quase no fim do destino, baptizei-o de Almeirim, pois via-se que o canito estava bem tratado, sempre acompanhou a coluna junto à Cruz. Coisa interessante mesmo, aquela do Cão.

Chegada ao fim da ponte, não seguimos pela subida para Santarém, viramos isso sim para os lados da estação (Ribeira de Santarém) e caminhamos na direcção de Alcanhões. Alcanhões ainda estava longe e a manhã ainda agora começava, caminhamos por estrada secundária agora, um perigo acrescido, pois além de mais estreita, não têm a mesma regularização das estradas anteriores.

Saída da estrada e entrada em estrada Agrícola, agora é que foram elas, piso irregular de terra, com bastante pedra, pouco depois de encontrei o Ramos, parado em descanso, e me disse “Rapaz isto agora é mesmo a doer, estou um pouco cansado, lá lhe disse que não eram horas de pensar nelas, (tanto nas pernas como nas borregas) e para não estar muito tempo parada, pois se arrefece-se lhe custaria muito mais reiniciar a marcha, mas ficou por ali mesmo parado.

Encontrei uma espanhola de Valadolide mas a viver em Badajoz, que aproveitava o tempo, apanhando alguns pequenos cachos de uvas em videiras que já tinham sido vindimadas, entabulamos conversa com a apresentação costumeira, quem és, donde vens, quantas vezes já foste peregrina, muito cansada ou não, a conversa normal para conhecimento entre as pessoas, eu ajudei a que ela tivesse mais uns cachos, no saco… entretanto o Ramos passou por mim num aceleramento total, dizendo que era ele quem mandava no rebanho e não elas e lá foi ele espezinhando as mesmas… como lhe deviam doer as solas dos pés… mas ele lá ia.

Parei um pouco, pois estavam a vindimar, mas em vez de um grande grupo de gentes, só maquinista e máquina para aquela grande vinha e olhem que eram muitos e muitos hectares, estava muito entretido a ver a máquina quando a Rosa me tirou da pasmaceira, pela necessidade de caminhar.

Agora era a subir… lá encontramos o asfalto, na entrada da vila de Alcanhões, Chegados um visionamento da dor que passava por todos, eram pernas no ar, gentes descalças… enfermeiras ao trabalho… mais corte e costura, muito “halibute” e tudo isto na praça principal da pacata vila, a Rosa sentou-se no passeio, logo outras amigas se sentaram perto dela… disse-lhe que ia por um café… ela anuiu com a cabeça e subi rua acima procurando a tão desejada bica.

A moça do café veio até mim, perguntou-me o que queria, mas eu me engasguei, vocês sabem o que é um peito bem feito e quase a descoberto, pois a visão estava ali, perguntando o que eu queria, lá lhe “disse” uma bica e ela foi por ela.

Trouxe o café, e eu devo voltar a ficar com cara de provinciano parvo, o Ramos e o Espada que estavam entrando ainda me viram entornar a chávena do café, como tudo aquilo aconteceu, não sei… o certo é que a moça se prontificou a oferecer outro café… deduzi, que o efeito inesperado, não era só na minha pessoa, outros já tinham sido atingidos… mas deu para uma boa gargalhada entre os três.

Volta tudo para a fila, que a próxima paragem será na vila de Pernes para almoço.
Mais serpentear, agora com mais trânsito automóvel junto ás pernas, a estrada, não tem bermas, só uma linha de tinta branca a delimitar a mesma.

Já próximo, paragem para a missa, que na saída como de costume não houve lugar devido á matina, a Rosa sente-se mal, quase desmaia, tiro-a da igreja e a trago para uma sombra, onde também corre uma aragem numa lateral da igreja, mas logo, logo se restabeleceu, já começam a voltar as cores à face e os calores que a invadiram a desaparecer, voltamos para a igreja, ainda a tempo do inicio da celebração litúrgica. Já tudo passou, demos o incidente por culpa do calor e da despesa calórica.


Paragem para almoço, o que as pernas querem é descanso, o que o corpo quer é descanso o que todos querem é descanso, é velos de pernas agitadas encostadas e erguidas nas paredes… chamada geral para o rancho, lá se vai arrumando toda a gente nas cadeiras… uma coisa eu notei, ninguém torce o nariz à alimentação, vejam só o que faz o esforço, tudo está bem.

Depois o café do costume, que este corpinho, já só anda por meio da cafeína.

Continua o calor, vamo-nos encostando por aqui e por ali, para descansar mais um pouco…pois logo soará a chamada geral.

“Meus senhores e minhas senhoras vamos lá acabar o dia com mais umas subidas e descidas, temos de iniciar a marcha”.

E lá se forma a fila em número de 12 por cada hoste que era o número de apóstolos, mais canções e um Rosário dedicado a Maria.

E assim foi um sobe e desce na direcção de Alcanena, onde chegamos já perto do anoitecer, mais uma vez, jantar sem banho, desta vez o jantar servido no refeitório da escola EB 2/3, em fila de pronto a comer, aproveitei-me das saladas que estavam bastantes frescas.

O descarregar as camionetas… mulheres e homens pela primeira vez, todos juntos, uma particularidade, homens para um lado mulheres para o outro, lá fiquei eu junto do meu grupo da noite e a Rosa na outra ponte junto ao grupo dela.

Montar tudo, para a cama ficar em ordem, desta vez o chão não era de cimento mas sim de tacos, coisa que me agradava mais. A colocar-me dentro do saco cama e a luz a se apagar… por um pouco ainda se ouviu um ou outro falando mas depressa tudo se calou… eu dormi que nem um santinho, dormi tudo de um sono. Mas me contaram que aquele ginásio, virou sala de concertos, as mulheres ressonavam mais alto que os homens… Se um dia existir uma próxima, levo gravador, para não me chamarem nomes… garanto que gravo tudinho.

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